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7 de julho de 2014

Brasileiríssima

Brasileiro é coração: e eu amo isso!
Fui parar do outro lado do mundo, em pleno Oriente Médio, pela segunda vez. De tanto estar rodeada de pessimistas (ou realistas, como eles se nomeiam), estava com o verde e amarelo meio desbotado. Foi aí que entrei em um café, pedi um macchiato e um pão com queijo e ervas finas. O mais próximo de café com leite e pão com mortadela que eu encontrei. Mas eu estava do outro lado do mundo e pingado por uma notinha de 2 reais não era uma opção. Conversei em inglês com a atendente, mas a brasilidade, que estava escondidinha lá no fundo do meu coração, não me deixa ser séria. Sou do tipo que fala dando risada como se não houvesse amanhã e brinca com quem está do outro lado do balcão como se nos conhecêssemos há anos. Bingo, ela descobriu na hora. Perguntou se eu era estrangeira. Eu disse que sim. Falei: “I am Brazilian” e sorri. Ela falou com as outras meninas atrás do balcão alguma coisa em hebraico e todas vieram no caixa conversar comigo. “Não acredito! Você é brasileira? Que legal! Copa do Mundo no Brasil! Brasil vai vencer!” Gritavam e riam, como se fossem tão brasileiras quanto eu. Senti alguma coisa lá no fundo do meu coração. Sou daquelas que tiram lições de vida de tudo, e ali eu estava diante de mais uma. Eu havia sido vencida pela frieza dos coleguinhas pessimistas e deixado alguma coisa pelo caminho. Os estrangeiros, muitas vezes, nos veem melhor que nós mesmos nos vemos.

Continuamos nosso papo. Contei várias coisas. Abri a mente das meninas e fiz questão de falar mais do que a mídia tendenciosa sai dizendo por aí. Elas se encantavam, perguntavam mais, e meu vocabulário de palavras em inglês já não estava mais dando conta de tanta expectativa que as garotas botaram em minha pátria. “Awesome! Amazing! Incredible!” Finalizei a conversa fazendo o convite: “Conheçam meu país! Estaremos de braços abertos esperando vocês!” Elas disseram que sempre quiseram conhecer o Brasil. Puxa, fiquei com vergonha. Vergonha de ter deixado meu patriotismo se apagar por causa da frieza congelante de alguns. Justo eu, que desde criança cantava o hino com todo coração, justo eu, que não via a hora de fazer 16 anos para poder votar, justo eu, que sempre acreditei em um futuro melhor, justo eu que... e a lista segue infinita. A gente tem que fazer a nossa parte por um país melhor. E ser pessimista, definitivamente, não é um bom começo. Enfim, a história não para por aí. Em qualquer lugar, era só dizer que eu era brasileira, que os sorrisos brotavam, e eu me acostumei a ouvir: “Sempre quis conhecer o Brasil!”

Agora é Copa do Mundo! Estamos na semi. Amo futebol. Sério mesmo. Grito como louca e já decidi que vou casar com alguém que tope assistir a um bom jogo comigo, senão, não dá, eu querendo ver uma final de tirar o fôlego e o marido querendo ir ao shopping. Coisa, né? O futebol dá orgulho, porque a gente faz bem, convenhamos. Essa é uma das especialidades da casa, daquela que o chef capricha, tem temperinho especial. Não fique com vergonha de torcer, de vestir a camisa e de chorar se o hexa não vier. É a pátria, colega. Você não se torna um alienado por isso. Vai por mim.

Comemorar com milhões de brasileiros uma bela vitória no futebol não significa descaso com as mazelas sociais. Chorar uma perda, muito menos. “Você deveria chorar pelas crianças que morrem todos os dias...” Choro. Choro mesmo. Choro muito, a injustiça me arranca um choro profundo, sentido. Não suporto a injustiça no mundo, e por isso tenho empenhado uma parte da minha vida oculta em mudar isso, mesmo que seja uma gota no meio do oceano. Mas entende o que eu quero dizer? Uma coisa não anula a outra. Eu leio sobre política, economia, esporte, comportamento, uma porção de coisas. Sei em que pé está o mundo. Mas nem por isso deixo de acreditar. Ora, a gente faz o que pode e o que não pode, tenta e tenta de novo, vai em frente e encara tudo. Se não der, tenta de novo. E pronto. Só desistir que não pode. Se encontrarem alguém por aí chorando uma derrota (espero que não aconteça), pode ser eu. Se encontrarem alguém por aí chorando a situação de gente desconhecida, pode ser eu. Sim, eu mesma, vivendo as duas situações. Desculpa. Ainda não consegui entender porque não posso amar futebol e amar a justiça. Amo os dois. Ponto. E tomara que a gente ganhe essa taça, por favor.

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